O estado de paixão não é um estado onde se está naturalmente sano. Ao contrário, quando nos apaixonamos, por algum motivo sem explicação científica (não que eu conheça, ao menos), o cérebro parece desligar a racionalidade e fala: "Vai ser feliz". E ser feliz num misto de dor e prazer. Quando a paixão não é correspondida, pega o lenço e vem chorar aqui no meu ombro. Essa dor é uma das piores, ainda que bater o dedinho do pé na mesa da sala seja um adversário de peso.
Se você estiver apaixonado, esqueça o esquecimento. Você poderá repetir o mantra de "Hoje eu vou desistir" sessenta vezes todas as manhãs, mas quando seu celular apitar com mensagens do seu bem querer, esse mantra troca o verbo e insiste só mais uma vez. Por hoje. Finge que os caminhos mais curtos não existem. Você está vendo o ônibus que vai direto pra sua casa parado e o motorista sendo simpático, ambulante distribuindo bala de graça e a sua melhor amiga de infância com vaga ao lado. Você ainda vai preferir pegar aquele caminho que demora três horas porque pode passar por todos as ladeiras e vielas que seu rapaz usa diariamente. Mesmo que não haja um encontro totalmente armado do destino, só de saber que estiveram no mesmo lugar já irá bastar. Você fica feliz com pouco, se contenta se ele não demorar a responder, se acha importante com apenas uma curtida em alguma das 20 redes sociais que você o procurou, investigou bastante e, depois de três garrafas de vinho tinto, teve a coragem de adicionar.
E então, decide que dessa vez acabou. Você já está mais psicopata do que apaixonada. Seu celular acabou se tornando uma extensão do seu coração e qualquer vibração parece gol na final da copa. E vai viver. Coloca seu melhor sorriso, compra roupa nova, bebe cerveja cara porque hoje você merece. Se diverte, e esquece daquele olhar por algumas horas. Então o destino, surpreso, percebe que você tentou parar de se colocar no lugar dele e fala "vou agir". E, como num jogo de tabuleiro, une as duas peças na mesma casa. Ou melhor, unem vocês dois na mesma rua. Um de frente pro outro, com a surpresa e o encanto de alguém que não espera mais a felicidade e ela decide lhe bater a porta. E você fica leve, seu coração se solta do corpo e, como um balão inflado com gás hélio, voa direto pros céus.
Talvez o meu racional esteja ligado diretamente ao calor dos seus braços. Aceito que é o acaso que me trará coisas boas se eu apenas não as procurar. Se deixar a minha vida seguir o seu rumo, ao invés de bater de frente com o "ainda não está pra acontecer". Algumas vezes, você sabe, a vida apenas acontece.
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