domingo, 24 de janeiro de 2016

Insisto

"Você já gostou muito de alguém?", ele me pergunta enquanto encara as gotas que escorrem pelo vidro da janela. Minha vontade é dizer que sim, e estou gostando nesse momento. Mas ele não ia entender, ou ia fingir que não era sobre nós. Então ele começa a dedilhar o violão e me encara. Sabe que eu gosto dessa música. Canto baixinho e desafinada, e ele sorri. Eu só falo sobre ele nos meus últimos textos e ele nem imagina isso. Finge que não sabe ou até só duvida, mas eu sei que sinto e tem ficado cada dia mais intenso. Poderia fugir, falar com outra pessoa, mas algo me prende. Eu não quero mais ninguém. Não há outro sorriso e olhar que me faça querer ficar. Chega aqui, me puxa de uma vez pros teus braços, moço. Fala que não importa com mais ninguém e que fomos feitos pra durar. Ou não fala nada, mas para de ser essa incógnita. Eu não sei o que esperar disso aqui, mas sei que vai acabar doendo.
- Sim, já... - e ele sorri.
- Como foi? - você não sabe, mas ainda está sendo.
- Doloroso. - Ele larga o violão e chega mais perto.
- Por quê? - Me questiona com aqueles olhos enormes.
Porque você não me vê da maneira que eu gostaria. Porque eu daria tudo pra ser aquela que tira teu sono e te abraça no frio. E eu não sou nem seu desejo embriagado. Estamos a sós e você nem parou pra enxergar que eu poderia estar em qualquer outro canto dessa festa sem graça e apenas passei a noite toda do seu lado. Eu quis tanto ser livre e acabei ficando presa na esperança de um dia ser alguém especial pra você. É doloroso demais te ver em tantos outros braços quando eu só queria alguns minutos sendo sua outra vez. Eu me perco nas palavras e encontro todas novamente quando você para de fingir que nunca tivemos nada. Quando você se abre e me olha de verdade, ao invés de me encarar apenas por baixo desses óculos quando ninguém mais está vendo.
- Porque eu quis mais do que ele me queria. - E eu que dessa vez estou encarando os pingos dessa chuva que agora parece tempestade.
- E você insistiu? - ele tira os fios de cabelo que caem sobre meus olhos, e eu me viro pra ele.
- Só se ele quiser que eu insista... - automaticamente, como um imã, meu corpo se aproxima do dele e nossos olhos se encontram. A melodia suave transforma uma cena banal em cena de novela. Eu sei que deveria me afastar, mas seus lábios parecem uma boa ideia toda vez que penso em algo doce. É aqui que começo e recomeço toda vez,é aqui que quero ficar. A chuva que cai lá fora inundou a rua e fez com que você ficasse. Eu leio isso como um sinal do destino e você acha que foi algo banal. Atrapalhou sua volta pra casa e deu gás a minha esperança.
- Eu não sei se posso te pedir isso.- Os dedos deles acariciando meu rosto, ele chegando perto, nossos narizes encostando. Você pode me pedir o que quiser, meu bem. Se quiser ir, eu aceito. Mas se puder ficar, fica e me deixa te fazer feliz. Eu tenho feito tudo pra que você me note e veja que nossas coincidências vão muito além do que o gosto pelo mesmo tipo de bebida ou a marca de cigarro.

«Silêncio»

Então me beija com toda a vontade. Finalmente puxa meu corpo pra perto do dele e me faz acreditar outra vez. Foi assim que começamos, com um beijo quente numa noite nublada. E é assim que recomeçamos, com um beijo especial no meio do temporal. A cidade toda parou pra que o nosso carinho pudesse se concretizar, todos de dentro de seus carros observando o encontro dos nossos corpos. Todas as ruas cheias enquanto meu sentimento te inunda. Eu ignorei todas as placas de perigo e decidi ficar. Eu sei que vou me magoar, mas a dor valerá a pena se eu apenas tiver mais um pouco de você. Não repara a bagunça que deixaram aqui que eu finjo não ver essa cicatriz que você tem marcada no peito. E assim vamos deixar a chuva lavar nossas mágoas para que possamos recomeçar outra vez.

Hoje eu insistirei.

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