sexta-feira, 29 de março de 2013

Calopsia

"Calopsia: A ilusão de que as coisas (ou as pessoas) são mais belas do que realmente são"
Imagine uma noite fria. Pra um carioca, só imaginar uma noite em que os termômetros caem até os míseros 17º. A única coisa que tenho para me esquentar é um fino lençol, e estou sem meias. Acordo no meio da noite, dramática, dizendo que sofro de hipotermia, buscando uma posição que aqueça todo o meu corpo e eu continue confortável. Mas nada é bom o suficiente. A posição fetal estraga a minha coluna que já não é boa; deitar de bruços não me permite respirar direito; e nenhum dos ursinhos que dividem a cama comigo é quente o suficiente para o frio que sobe dos pés até o pescoço.
Então, do nada, surge um edredom quente, macio, confortável. O frio desaparece aos poucos, trazendo um calor gostoso, diminuindo meus dramas e me fazendo adormecer com um sorriso no rosto.

Saio de casa, numa manhã quente e ensolarada. Meus cabelos estão lisos, maquiagem que não é à prova d'água, blusa branca. Numa bolsa de pano, meus documentos mais importantes e nenhuma proteção contra a umidade. Verão, calor, sem previsão de chuvas. Eis que uma tempestade surge do nada, sobre a minha cabeça. Ninguém mais se molha, só eu. Eu, patética, ridícula e com o sutiã a mostra. Olhos borrados, cabelo desfeito e todos os papéis foram atingidos pela chuva torrencial. 
Do nada, sinto que volto no tempo. Não tem mais chuva, não estou molhada e estou andando como se nada tivesse acontecido. Sinto a primeira gota bem no meio da minha testa, mas um braço me puxa para dentro de um abrigo. A tempestade volta a cair, estou a salvo. Intacta.

Você trouxe a coberta perfeita para conseguir esquentar esse pequeno coração, que congela tão fácil quanto se derrete ao ver o seu sorriso. A chuva pode até cair lá fora, paralisando o trânsito, fazendo a cidade entrar em estado de emergência. Mas estou protegida, encantada, vendo faíscas saírem a cada vez que seu sorriso aparece.
Não posso nominar o que eu estou sentindo, não sei o que irá acontecer amanhã ou depois, se irei ver seu sorriso durante as próximas semanas ou se irei fugir assustada a cada encontro casual. Mas te agradeço por tanto em tão pouco tempo. E por aceitar uma dose diabética de carinho ao invés de rejeitar, como aconteceu tantas vezes antes.

Uma doce cantora conseguiu expressar tudo o que eu sinto em apenas uma canção, que obviamente você nunca ouviu e eu nunca te mostrarei pois sentiria vontade de falar abertamente "toma, é exatamente isto aqui!". Se não dou meu sorriso de bandeja, iria dar meu coração? 
Mas você já tem meu sorriso, sabe disso. E apesar de todas as minhas tentativas frustradas, sabe exatamente o que eu sinto. É o suficiente.


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