E fez-se frio, os passarinhos pararam de me acordar com seus cantos. As folhas ainda caiam, assim como as gotas da primeira chuva da manhã. Éramos só os dois, num silêncio quase profundo. Como se o mundo inteiro houvesse decidido que, em respeito a nós, guardaria seus ruídos sujos e nos daria a pureza do silêncio mais limpo. Eu, deitada sobre teu peito, admirando os primeiros raios de sol. Você, no sono ainda mais profundo, conservava um sorriso no rosto.
Te observei dormir por horas que se arrastaram como minutos. Sentia tua respiração e ouvia teus batimentos. O frio já não me importava, pois o calor do que tomava meu coração já era o suficiente. Dane-se trabalho, estudo. Tudo o que preciso ensinar para os meus filhos encontra-se aqui: carinho, sentimento, compreensão. As feridas que um dia estiveram expostas agora encontram-se totalmente cicatrizadas. Seu beijo foi a pomada que amenizou todas as dores que os encontros e desencontros da vida me trouxeram.
Lembro-me agora daqueles 30 segundos que foram o suficiente para quebrar a camada de gelo que eu tanto preservei. Seu sorriso era como um soco de fogo derretendo minhas angústias congeladas. Tirou minhas botas sujas com a lama do passado, e me fez colocar um vestido rendado de esperanças para o futuro. Trouxe um colorido nostálgico para o meu mundo, que se acostumou com o efeito sépia.
Você irá acordar em poucos minutos. Percebo pois já conheço o seu sono. Já me abraçou algumas vezes e me acariciou também. Deste ponto de vista, acho que nunca vi alguém tão belo. Mas isto já não me importa. A beleza que me encanta está além do que os olhos podem ver, apesar de ser tão clichê. Já disseram que é paixão, sentimento. Sei que estas fagulhas no peito junto com as borboletas no estômago são a melhor sensação que poderia sentir neste outono rigoroso. Ainda tenho todo o terreno do teu coração para conquistar, e aviso que não desistirei tão fácil.
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